21 de dezembro de 2012

Último Vislumbre

E a menina apertou sua mão.

Tinha dó da pequena, pois ela não tinha vivido o que ele já viveu, mas esse momento não era o dos melhores para se pensar em perdas.

Alias, pensar nessa situação já era algo muito difícil. O homem queria fazer algo especial. Queria que seus olhos e suas memórias vissem algo exemplar e lindo em seus últimos vislumbres, e como adorava aquela cidade levou a garotinha com menos de uma década de vida para o topo do prédio mais alto, do ponto mais alto, e dali eles iriam presenciar o fim de quase todas as coisas.

Voltou os olhos pr'aquele farto volume loiro de cabelo, preso em uma fita de cetim vermelha, e se perguntou se não valia a pena se esconder naqueles abrigos que faziam o maior sucesso no preceder do fim, mas realizou que não.

Após a primeira onda de calor, a comida iria acabar em dias, e a água em horas. Em poucos meses as construções que ainda estivessem em pé estaria às ruínas, e assim não teria nenhum abrigo para as possíveis chuvas ácidas que desceriam destruindo aço, madeira, plástico e até mesmo a carne humana. Após a radiação, estudiosos apostavam que até a terceira geração dos que ainda insistissem em terem crias, não seriam mais parecidas com nada que se vê hoje.

A questão é saber desapegar. E no que você não conseguir, leve contigo para seu fim. Foi assim que aquela garotinha assustada foi parar em cima daquele prédio naquela hora.

O homem começou a pensar sobre onde talvez estaria a mulher de sua vida, mas percebeu que o calor estava vindo pouco a pouco em sua direção, e os botões de sua camisa já não aguentaram e foram de desbotando porque estavam deixando de existir naquele exato momento.

A mão da menina se afrouxou da sua, a fita de cetim vermelha também.

E não teve mais nada.