31 de julho de 2014

Xenofobia

Coautoria de Claudia Nunes, Hermes Neris e Isadora Magalhães

Selma era uma jovem colega de trabalho. Todos no escritório estavam na flor da idade, bonitos e festeiros. A era de ouro.

Selma era tão festeira que as 50 pessoas na festa de inauguração do seu primeiro kitnet apertado no centro da cidade, já há 5 anos, está na boca do povo até hoje. Épica! Tanto que no primeiro mês que estava morando numa garbosa casinha vermelha na alta Pompéia, 15 minutos do terminal da Barra, fez uma pequena reunião com o pessoal do serviço.

Coisa pequena. Vinte e poucas.

Entre um baseado, cerveja, MPB e catuaba, conheci uma das moradores de tal belo casebre: Isadora. baiana tropicana, advogada com o mais sensual sotaque soteropolitano que a terra da descoberta poderia dar.

Naquele dia aprendi muitas coisas com Isadora. No sofá, junto com algumas pessoas, entre a rádio tocando e o Paulo procurando o Beck, Isadora nos contemplou com as mais belas histórias da tradição e do folclore BR.

Isadora disse que a primeira filha de um casal, sempre era recebida ao mundo com um lindo canto do pai, parentes, enfermeiros e médicos durante o momento do parto: Minha pequena Eva/ Eva!

Isadora nos contou que os votos de casamento são diferentes daqueles católicos tradicionais, - Autorização direta do Vaticano, pois perceberam a forte tradição do povo e que também não fere a palavra de Deus - e são compostos pelos versos: Oh (nome da pessoa) / mil e uma noites de amor com você,/ na praia, no barco,/ no farol apagado,/ no moinho abandonado numa grande alto astral./ Lá em Hollywood, pra de tudo rolar/ vendo estrelas caindo/ vendo a noite passar,/ eu e você,/ na ilha do sol./ Eu e você na ilha do sol./ Eu e você na ilha do sol./ Do sol! (aceitável leves modificações).

Sobre a culinária Baiana, Isadora foi categórica em dizer: É tudo feito de carne. Tanto que, o que nós paulistas conhecemos com 'pão', aquele bolo de trigo inchado adquirido no padeiro do Seu Zé mais próximo de sua residencia, na Bahia é aquilo que nós chamamos de 'kibe', aquele bolo de carne prensado adquirido na lancholícia mais próxima de sua residencia.

Todos acordam pontualmente às 7 AM. 7:30 AM todos na mesa pro café. O menu é longo: Tem rabada, arroz tropeiro, feijoada com sarapatel. E claro... Muito pão com manteiga, AKA kibe com carne louca.

Até chegar a hora do almoço, um bife a cavalo com porção de toicinho. No almoço mocotó com caldo de jenipapo, mocotó com pão, bode assado com farofa de carne seca, bolovo com bacon frito na gordura de embu, buriti e mocotó.

Para tampar o buraco do estomago até a janta, muito pão com ovo na banha de porco. Uma jantinha básica, e pra finalizar o dia uma bolacha cream cracker acompanhado de um copo quente de leite de cabra com toddy antes de ir deitar. Sem contar é claro, dos assaltos noturnos à geladeira.

Isadora também falou sobre a tradição que os locais tem de receber os visitantes nos aeroportos e rodoviárias do território baiano. Alguns políticos até diziam que tal corinho era incentivo ao turismo sexual, mas foram tombados na votação da câmera em 2003. O episodio ficou tão famoso, que até o ministério do turismo fez um comercial com o famoso refrão dos batuquistas: É o novo som de salvadô,/ é o novo som de salvadô,/ paquerê, paquerô! (repete ∞ vezes).

Outro refrão famoso no grande êxodo rural, onde o estado perdeu grande parte da sua população masculina para estados mais industrializados, as mulheres, mães e esposas que ficaram sozinhas cantavam em coral: Eu fui embora e meu amô chorô,/ eu fui embora e meu amô chorô,/ vou voltar,/ vou voltar./ Eu vou nas asas de um passarinho,/ eu vou no beijo de um beija-flô / o tictictac do meu coração,/ renascerá!/ Timbalada é a semente de um novo dia,/ nordeste, sofrimento, povo lutador,/ entre males e montanhas com você eu vô!/ Amor é só me chamar que eu vô!/ EU VÔ!.

Isadora ficou horas contando suas experiências.

O Beck e o Paulo estavam rindo alucinados no sofá. Selma achou tão interessante que já virou rotina, em todas suas festas, o pessoal forma uma roda perto dela pra poder contar sobre esse diferente folclore.

Já eu?

Eu adorei conhecer Isadora. 

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