10 de setembro de 2013

Canalhas Urbanos #01 - A Burguesa e o Proleta

Epílogo do Proleta

A mulher está nua deitada na cama de pernas abertas. O homem também nu está no meio dela, segurando suas pernas na altura das panturrilhas. 

Ele lembra que tem que pagar o aluguel daquele mês, talvez aquele fosse um bom momento de pedir um aumento.

Ambos estão suando. Ela está gemendo. Ele está vermelho.

Tomo Primeiro - dos cumprimentos iniciais 

Um grupo de pessoas está andando na Avenida Paulista. Um homem se destaca do grupo acendendo um cigarro.

Uma mulher se aproxima dele tirando seu maço da pequena DG, procura o isqueiro na bolsa mas não acha e se aproxima dele.

B - Você tem fogo?

O homem oferece o próprio cigarro. Eles param de andar, ela acende seu cigarro e devolve o do homem.

P - Acho engraçado o jeito que o cigarro une as pessoas? - Papeia.
B - Você acha? - Responde rindo.
P - Se não fosse pelo fogo, iriamos até a loja sem trocar uma palavra.
B - Talvez.
P - Certeza.
B - Mas não podemos nos esquecer quantas vidas o cigarro tirou. Desunindo famílias -Retruca.
P - Isso já é outra teoria minha... Sobre o motivo das pessoas fumarem... Mas prefiro imaginar que fumar é um método de coerção social.
B - É uma maneira estranha de se pensar. - Analisa a mulher.
P - Mas aqui estamos. - Conclui ele.
B - Não seria o cigarro que nos uniria - Ela responde sem graça - Um dia ou outro iriamos conversar.
P - Afinal, a senhora é minha chefe!
B - Exato. - Diz rindo - Mas não me chame de senhora nunca mais!
P - Opa... Desculpa! Está mais para dama burguesa.
B - Burguesa?
P - A burguesa e o proleta .
B - Ah não... Não me diga que você é um desses marxistas chatos. - Esbraveja.
P - Namoro com Marx... Mas apenas! - Tentando se  inocentar.
B - Odeio esses esquerdistas chatos que criticam o capitalismo, mas não tem nenhum argumento correto para tal!
P - Você tem argumentos para criticar o comunismo? - Questiona-a.
B - Inflação e sabonete de crianças? - Ela chuta dando risada.
P - A verdade doí! - Diz sem acreditar.
B - Não... Não é bem assim... - Tentando concertar as coisas.
P - Não! Eu não estou brigando contigo... Eu não posso brigar com quem comanda minha folha de pagamento. - Interrompe tirando sarro.
B - É, eu sei, mas o que eu estou dizendo é que eu odeio extremismos. De qualquer jeito!
P - O ódio não seria um extremismo?
B - Você me entendeu. - Corta ele, seca.
P - Extremismos são ruins mesmo. - Recomeçando o papo - As duas pontas distantes de uma mesma linha é o que mais incomoda. Por que todo mundo não pode ficar no meio?
B - Como assim? - Pergunta confusa.
P - O proleta e a burguesa.
B - Ainda nesse papo? - desacreditada.
P - Pensei que nunca tínhamos mudado.
B - Enfim... Continua. - Sem paciência.
P - Dois personagens que nunca podem ficar juntos. Romeu e julieta...
B - Ah meu deus... Que romântico - Ela fala por cima dele.
P - Tipo alladim, o filme da disney... Sabe?
B - Você gosta de desenhos? - Se interessa.
P - Tenho sobrinho pequeno.
B - Bom... Mas eu não concordo. - Voltando ao assunto - Já namorei uma pessoa com a renda menor que a minha... - Pára de falar quando percebe que ele está rindo.
P - Você é mesmo a burguesa então.
B - De acordo com o que você está falando né. - Fala impaciente.
P - Mas eu nem estava falando disso... Relacionamentos amorosos e tudo mais. - Diz o homem.
B - Ah não? - Sem graça.
P - Não ainda - Malicioso.
B - Do que está falando então?
P - Da distância social....
B - Da burguesa e do proleta. - Conclui.
P - Está aprendendo - Ele diz rindo. - Estamos falando de nós dois agora.
B - Bobo... - Fala sem graça - Mas você não é o proleta.
P - De acordo com a definição, sim eu sou - Decisivo - Já que tenho um vinculo profissional com você, e você é a dona de loja.
B - E essa distância social acarreta no que então?
P - Em tudo.
B - Especifique, por favor.
P - Em relacionamentos.... - Diz rindo - Aqueles. Amorosos e tal.
B - Você disse que não estávamos falando sobre relacionamentos.
P - Não estava. Agora estamos.
B - Certeza?
P - Por enquanto.
B - Bom, então eu não concordo contigo. - Completa ela.
P - Seja sincera!
B - Estou sendo oras.
P - Vocês, burgueses, já tem lugares específicos para procurar alguém. E são lugares que pessoas como eu por exemplo, não frequenta.
B - Que isso!
P - Você mora em Pinheiros. Nem na capital eu moro! - Ele concretiza. - Você procura namorado no shopping Iguatemi, eu no risca faca! Não tem cachorro? Caça com gato!
B - Mas o lugar para encontrar alguém interessante é irrelevante. - Interrompe sem prestar atenção no que ele falou.
P - É mesmo? - Ele pergunta duvidoso. - Onde?
B - Pode-se encontrar alguém legal no trabalho... Por exemplo.
P - Pode mesmo... - Ele sugere.
B - Não existe perfil! - Rindo.
P - Existe sim um perfil!
B - Mas às vezes a burguesa está cansada de burgueses e os proletas cansados de proletas.
P - Sim... Isso por acontecer. - Reconhecendo a razão dela.
B - E é aí que você encontra alguém no trabalho. - Ela se repete.
P - Pode acontecer.

Ambos ficam em silêncio por um tempo, até que ele quebra o gelo.

P - E tudo isso por causa de um cigarro.
B - Foi assim com o meu ex também... Aquele da renda menor...
P - Eu não quero saber disso.
B - Oi? - Assustada.
P - Quero saber se você está desimpedida.
B - Mas e o profissionalismo? - Dá uma bronca brincando.
P - Estou sendo totalmente profissional.
B - Não parece. Você sabe que não se flerta com quem tem controle sobre seu Holletith né?
P - Não se preocupe. Tenho outras rendas também.
B - Eu sou muito profissional - Ela responde rindo. - Por isso que te contratei.
P - Não foi você quem me entrevistou. - Responde confuso.
B - E você acha mesmo que a dona da loja não tem controle sobre seus novos funcionários? - Pergunta maliciosa.
P - Porque fui escolhido então? - Curioso.
B - Porque você nos escolheu? E nem vale dizer que estava precisando de um emprego.
P - Posso te contar isso em outra hora?
B - Quando? - Simulando impaciência.
P - No nosso café.
B - Você está me chamando para sair? - Pergunta incrédula.
P - Um café profissional.
B - Um café profissional? - Pergunta desacreditando.
P - Profissional.

Ambos param na frente da loja. O pessoal vai entrando na loja, e ela indica o lugar onde todos devem entrar.

B - A loja é essa pessoal, adorei te conhecido vocês melhor na nossa dinâmica. Agora vamos pro segundo andar pro treinamento geral? - Avisa a todos.

Todos sobem. Ele olha pra trás e vê ela acendendo um cigarro na porta da loja.

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