19 de setembro de 2013

Crónica do Homem Rústico

- Nunca pensei que você fosse capaz disso - Disse a mulher gemendo quase emudecendo.

Estavam ali, no quarto, ambos nus e suados. O rapaz sobre a mulher, fundindo com seu corpo liso e livre de qualquer aspereza que os pelos podem dar. Estava dentro dela se movimentando sutilmente e delicadamente com um ritmo continuo e previsível sentindo todo o calor e umidade que ela podia dar.

E a única coisa que o sussurro dela fez com ele, foi fazê-lo acreditar que ele realmente tem cara de um jovem bonzinho.

No auge da juventude o rapaz nunca foi rato de academia nem prezava por uma vida saudável, mas esbanjava vigor. Tinha um fôlego que poucos da mesma idade tinham.

Era magro, com uma leve camada de gordura, certamente onde era depositada a quantidade colossal de bacon e cerveja que ingeria diariamente. Não muito vaidoso vestia trapos que Kurt Cobain se envergonharia, mas o conjunto da obra ornava. Em seu rosto mantinha uma pelagem cheia e dura, que dava um aspecto selvagem, rústico.

Ele sabe que é disso que as mulheres gostam. Não entendia o plano de embelezamento masculino atual, onde homens ficam horas na frente do espelho, se penteando e até passando maquiagem, calças apertadas, falando fino e usando esmalte.

Não.

Mulher gosta de ser usada.

Ser pega pelo braço e ser jogada na cama. Rasgar suas roupas e fazê-la implorar por uma última noite de amor, vê-la cavalgar como uma amazona por um longo campo verde, para enfim , juntos, poderem explodir em êxtase.

Mas apesar de saber disso tudo e se esforçar para manter essa característica de homem rústico-alfa, a frase que ele mais escuta é:

- Você tem cara de bonzinho.

Não que isso não fosse algo bom, muito pelo contrario, as mulheres se aproximavam dele por isso, e como um bom canalha, a acolhe e a faz sentir especialmente única, para então poder leva-la para o já conhecido quarto de motel.

Foi assim que aconteceu com a mulher deitada ali agora.

Ela era a moça nova do escritório. Em processo de expansão, contrataram novas pessoas, e junto com ela vieram mais três deliciosas novas moças.

O rapaz quase explodiu de emoção, principalmente porque aquele trabalho estava muito parado nos últimos tempos. Poucas mulheres ali, e dessas poucas ou são casadas, velhas, feias ou ele já levou para a cama e não estava mais a fim de levar de novo.

Tinha-se acabado as opções.

Mas como sempre, ele chegou receptivo às novas funcionárias, e de moço bonzinho de família logo virou o:

- Canalha sem coração!
- Eu? - perguntou rindo numa tarde quando ambos estavam voltando do horário de almoço.
- Exato. Você engana bem com essa carinha.
- E porque acha que sou isso?
- Falei com as moças do RH ontem. Todas estão completamente apaixonadas por você.
- Ah é? Elas disseram isso?
- Não... Não precisaram falar.
- Então o que elas disseram?
- Que depois que foram pra cama com você, perderam completamente o parâmetro. - disse envergonhada.

E agora ambos estavam ali.

Ela estava de olhos fechados mordendo os lábios. Suas longas unhas com o esmalte amarelo desgastado era enfincado nas costas do rapaz que o fazia dar um novo fôlego de força quase animalesco cortando-a fundo a fazendo perder o ar e soltá-lo junto com um leve urro, efeito colateral do tesão que crescia exponencialmente por todo seu corpo.

Depois daquele pernoite, os dois voltaram ao escritório e com todo o profissionalismo do mundo fingiram que nada tinha acontecido.

O flerte tinha acabado. Assim como os longos almoços juntos, que já não faziam mais sentido.

"O bom do sexo de uma noite, é que dura apenas uma noite", era a máxima do rapaz.

Às vezes dava risada sozinho vendo a moça andando com aquela roupinha social cheia de classe e orgulho, quando que pelada na cama, perdeu completamente o quórum gritando obscenidades que até ele se assustou.

E agora a vida voltava ao normal, e a odisseia do solteiro voltava a ser vivida.

- Bom dia gostosa - cumprimentou a nova recepcionista.
- Bom dia bonitinho... E aí, quando vai raspar essa barba?
- Só depois que você senti-la.

Com um sorriso tímido dela, ele continuou andando para sua mesa e se lembrou de que tinha que passar na farmácia antes que aquele dia terminasse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário