Na noite de 31 de julho de 2014 na Lanchonete Cuca Ideal na rua Augusta, um determinado poeta morreu um pouco.
Últimos dias de férias, ele estava em seu melhor momento no trabalho, e todos os contos, crônicas e poesias que escrevia era lido com muito amor e apoio de todos seus mais próximos. Resolveu tomar umas cervejas para sorrir, mas o final daquela noite foi regado com lágrimas.
O maior amor que um poeta um dia terá, é com suas poesias. Próprias crias, filhos natos da experiencia única de escrever, cada letra era o relato de um momento inexpugnável da sua memória, as palavras de algo legitimamente essencial na vida. O que o Poeta, no papel de poeta, achou necessário exprimir com sua caneta num papel tal sabedoria para os outros e para o futuro.
Em tempos modernos tal Poeta virava mídias antiquadas e vencidas, porém eternas e primordiais: papel e caneta. Não saia de casa seu seu caderno, onde qualquer momento, ou qualquer ideia, tinha que ser assinados nas folhas de seu diário.
Lembra com carinho do primeiro caderno. Julho de 2012, por conselhos da uma professora muito bonita e inteligente por sinal. Marrom, sem nenhum desenho. Uma fita elástica para ajudar no fecho. O interior era intercalado com folhas pautadas, e folhas não pautadas. Imerso de desenhos, gráficos, listas e letras. Ideias dispersas de uma única cena de um longa metragem, ou estudos profundos sobre a edição não linear sob a perspectiva da escola russa de cinema. Lembranças de KINO.
Um ano depois, por meados de agosto de 2013, o desemprego assolou o Poeta, e nas últimas páginas em branco de seu primeiro caderno, arrumou um novo do novo empregador. Vida nova com caderneta nova. Verde, com as inscrições em baixo relevo "Cultura em Curso". Apesar da propaganda, nada poderia ser mais relevante do que tais palavras. Era com aquelas folhas totalmente em branco, que a cultura do jovem Poeta era estudada em textos políticos, contos sobre mulheres e cronicas do seu dia a dia.
Seu terceiro caderno era menor, um "war notebook" de bolso. A ideia era simples: Quando estiver sem mochila, ele colocava o caderno menor no bolso, pronto para qualquer ocasião. O Poeta era tão dependente de suas folhas e canetas, que ele já chegou a leva-los para a balada. E sim, ele escreveu um lindo poema na vitrine humana.
Mas naquela fatídica noite, no meio de drogas licitas e ilícitas, seus cadernos sumiram.
Ele olhou para o lugar onde estava sua mochila, debaixo da mesa, no canto encostado na parede, e ela não estava lá. Alias, estava no lugar mais difícil de pegar dentre todas as mochilas daquela mesa. A respostas da questão era uma: Roubaram, mas quem é boçal que rouba de um poeta?
Um livro de contos de Machado de Assis, A Saga da Fênix Negra e Marvel Zombies em edições de luxo, duas sobre-blusas de verão, 40g de maconha, um dichavador, seda tipo prata, um perfume, camisinhas, a própria mochila (presente do pai de aniversario, não tinha feito nem 6 meses), e seus três cadernos.
"Tinha alguma coisa de valor?" - perguntou um dos amigos? Carteira, celular e o molho de chave estava no seu bolso, mas o real valor tinha ido embora. Uma parte da sua alma. Seus filhos que sabia que não voltarão nunca mais.
O Poeta se machucou tanto, que como uma metáfora, ficou sem palavras.
Quem é o Poeta sem poemas? O Poeta sou eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário