16 de fevereiro de 2013

Aquele Apelido

‎- Meu nome é Rodolfo, mas pode me chamar de Pringles!

Apelidos estranhos sempre fizeram a garota pensar. Ter um apelido legal é o que te difere de quem não tem apelidos legais, ou pior de tudo, quem não tem apelido nenhum. Um apelido no final das contas faz parte de sua identidade, da sua historia e da sua vida.

Sentada ali naquela cadeira de um restaurante chique qualquer da cidade, ela começou a pensar na sua adolescência, e em todos os apelidos que mais a tinham marcado.

Tinha um garoto que o chamavam de Suicida, pois tinham algumas historias de que ele tentou se matar algumas vezes, mas pelo jeito que ele andava pela escola, não deu muito certo. Pra falar a verdade, ele nem era tão legal assim, mas sempre davam atenção pra ele, com medo de que ele tentasse se matar de novo, e dessa vez desse certo.

Também tinha a Abelha. Era uma menina baixinha e gordinha insuportável que sempre tava comendo um doce e fazendo fofoquinhas para as amiguinhas. Tinha saudade do Trator, apelido que ganhou depois de dormir na casa de alguns colegas.

Pensando bem, ela reparou que não se lembrava do nome de ninguém, apenas dos apelidos. Sempre se lembrava do Betão, jurava que seu nome era Roberto, ou Aberto, e no dia da formatura descobriu que nome era Bruno.

- Mas porque te chamam de Pringles?
- Sei lá, sempre me chamam assim.

Nesse momento ela sentiu o cheiro da mentira, ou seja, ninguém o chamava de Pringles, mas ele insistia nesse apelido para ser descolado. Afinal, Rodolfo é muito ruim mesmo!

Mas essa coisa de inventar apelido nunca fizera muito sentido. O apelido tem que vim de alguma característica sua, e logo quem deve dizer qual é seu apelido são seus amigos, e não você mesmo.

Ela não gostava disso. Só aceitara sair com ele porque sua irmã tinha insistido muito. Tinha acabado de sair de um relacionamento, e talvez conhecer pessoas novas realmente iria ser bom. E se ela não saísse com ele, sua irmã iria arrumar outro, e outro e outro. Mas quando ela disse dele, Ela não o tinha chamado pelo apelido, e sim pelo nome, o que significa que ninguém além dele mesmo o chamava de PRINGLES. E ela não gostava disso.

- Ele é um cara legal. Tem um emprego fixo e ta ganhando muito bem, já é formado e além de tudo é um gato. Engraçado e muito ‘gente boa’, aquele tipo de pessoa que você gosta de estar sempre ao lado dele... Ele tem uma simpatia que nunca tinha visto antes.- Foi o que sua irmã disse. Ou seja, era um bom partido. Mas para a garota existiam coisas que iam além do "simpático, rico e bonito".

A garota sempre quis ter seu próprio apelido. Sonhará a infância toda com alguns nomes que via em filmes, ou que lia em livros, mas no final ela sempre teria aquele apelidinho escrotinho. São regras da vida, e ela não podia mudar isso. Logo não era justo, isso que ele estava fazendo.

Ela entendia que era carinhoso, mas dava um ar mais infantil ao que já era. Muitas vezes perguntavam pra ela se ela realmente era maior de idade, pois aparentemente não parecia, pelo seu tamanho e rosto de criança. Mas para ela, ter o diminutivo do nome como apelido é tão triste quanto não ter apelido. E ela não gostava disso.

- Mas e o seu moça? Qual é o seu apelido?
- Eu não tenho apelido - mentiu
- Posso te chamar pelo seu diminutivo então?
- Não.

A moça pegou suas coisas e foi embora.

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