30 de abril de 2014

O Segredo das Mulheres Apaixonantes #23 - Paula

Seus olhos.

Foram os olhos de Paula que me fizeram apaixonar. Grandes e profundos. Conseguem encarar o fundo da sua alma. Radiação de alegria. Um olhar inesquecível e inexorável.

Paula inteira é linda. Sim ela é. Me lembro bem de seu corpo de mulher. Engasguei quando disse sua idade e percebi que não passa de uma criança com postura de mulher. O corte curto do cabelo revela ainda mais a delicadeza do seu rosto, iluminado pelas duas grandes pérolas que porta. Sempre com batom de cor forte e sensual, cores quentes.

Sim era postura de uma mulher firme e mais crescida do que realmente é. A primeira vez que a vi foi uma bronca. Estava enrolando no posto de trabalho quando me vejo integrado pelo olhar penitente e o pé batendo rapidamente em reprovação.

Cruel digo que foi o meio onde nos conhecemos. Profissionalmente falando, não poderia fazer nada a não ser olhar. E foi profissionalmente falando o jeito como ela me cortou na primeira iniciativa que eu tive de dizer: deixe-me beijar seus lindos lábios coloridos uma única vez que seja.

Ficou assim. Fui atrás algumas várias vezes, mas não dava. Não dávamos.

Paula é a típica mulher que aparece na sua vida por poucos momentos para nunca mais se esquecer. E também nunca mais aparecer. Quem sabe se eu a tivesse conhecido na faculdade ou no bar, numa balada ou ser minha vizinha, mas não, Paula era a minha colega de trabalho e nada dava para se fazer.

Dia desses descubro que ela está namorando uma menina. Não me espantei. Antes de conversarmos suspeitei que ela fosse lésbica. Motivo pela qual talvez só tenha aumentado minha libido. Pelo seu estilo transgressor, repleta de brincos e piercings. O cabelo já era curto, e ainda pentea pra cima! Ué?

Paula é confusão. Não conheço Paula, não sei quem é Paula. Apenas penso, tenho firulas e pensamentos dispersos.

Acredito na garota Paula, reprimida, e hoje acredita mais nela do que nunca antes. Tadinha dela, ainda acredita no real amor, aquele que vem o príncipe com um cavalo branco e etc. ela vai dizer que não, claro que não, mas bem no fundo sabemos a verdade.

Sorte sua. Não sou esse príncipe. Por isso que nos afastamos tão bruscamente. Desculpa por não ter te dado a atenção que você precisava. Carência.

Reflexo da vaidade. Muito vaidosa. Precisa do aplauso de todos. Precisa da curtida de todos. Carência.

Ou talvez ela só seja vaidosa porque é bonita e quer ficar mais bonita. Ela sempre passa um lápis preto para realçar ainda mais seu magnífico olhar de âmbar. Jogo sujo. Talvez seja por isso que Paula seja uma das mulheres mais apaixonantes que já conheci.

Confusa! Infantil!

Eterna criança com olhar de mangá.

29 de abril de 2014

Amiga da Minha Ex Mina

A amiga da minha ex mina
também é amiga minha,
não a melhor, nem inimiga,
mas dentre mais cargos criados
essa lista só se amplia
mas ela em nada se enfila.

Dos tempos que a ex era só mina
da amiga me lembro bem,
uma dúvida me assovia:
"Tu és sabida, ou nem?"

Amiga da minha ex mina,
de tudo, isso afirmo:
Confio! Depois de todo tempo,
Amiga é! Tanto quanto havia.
Portanto como consolo da última sina
Tal ato a ti suplico:

Dos ditados e palavreados que a ti pertencia
omita aquele que fala das borboletas que por ela sentia.
Me incrimino em saber que de dito passado, distancia dali não há,
e que ainda amo aquela que um dia chamei de mina.

24 de abril de 2014

Nome de Deus

Baseado em diálogos com Matheus Moreira.
Revisão de Anna Lóxy.

 - Você fuma maconha?

Perguntou a mulher violentamente. 

O jovem se assustou, não esperava uma reação dessa vindo daquele rostinho. Loira com mechas que iam até seus olhos, amarrados em um coque, onde dava para ver sua nuca sensual. Óclinhos de empresária tipo meia lua, vestida com um tubinho grudado, e por baixo um corselet branco de tirar qualquer homem do sério.

Ela era direta. E tudo a partir daquele momento poderia machucar. E muito.

 - Injeta heroína ou cheira cocaína? Fuma crack? Bebe cerveja? Pinga, matini, vinho, gim? Cogumelo? Merla? Skank? LSD? Lude? Lemom? MDMA? Extasy? PMT? Anfetamina? Trobromina? Cristal? Ópio? GHT? Morfina? Cola de sapateiro? Aspira um lança do bom? Tiner? Tabaco ou hachiche? Mefedrona? Refrigerante? Crocodil? Internet ou televisão? - Respira sem ar - Me diz... O que você já usou? Ta bom, ta bom... Desculpa se eu fui invasiva, mas estou perguntando porque eu já usei tudo isso.

O rapaz não se assustou. Conhecia aquele tipo de mulher, no começo intimida com sua carinha de safada, mas depois se abre, e qualquer homem percebe que não passa de uma garotinha já muito usada pela vida. Garota era ela - ele era homem.

 - Acredita nisso? - Ela continua rindo - Eu sou uma total e incompreendia viciada em drogas. Se dá um barato, qualquer que seja, eu topo. E sabe por quê? Porque a realidade é dura demais para ser vivida sobriamente. Olha só a porra da cidade em que moramos!

Do Terraço Itália mal dá para ouvir os gritos de socorro do povo paulista lá de baixo. O ponto mais nobre da capital de São Paulo. Muito alto, além das nuvens de poluição. Mas basta sair na calçada do prédio, que qualquer um vê o quão violento é estar ali. São Paulo tira qualquer um do sério.

 - Precisamos fugir às vezes. Alguns fogem mais do que outros, mas a questão não é essa, e nunca vai ser. A questão está na procura. Todo mundo quer achar o método definitivo de fuga, e é exatamente por isso que estamos aqui hoje. - Ela pausa levemente, e com um olhar malicioso conclui - Nós achamos.

Ele ri. Não acreditava em nada do que estava falando. 

- Você ainda não me convenceu a te dar essa pequena fortuna. - Aperta o cabo da maleta para verificar se ainda está ali.

O homem era um empresário de sucesso. Tinha acabado de se formar e já trabalhava num alto cargo na industria do pai. Jovem e baladeiro. Mal podia esperar pelos feriados prolongados para ir pro interior nas melhores raves do país. Eram seus pequenos paraísos artificiais, o céu na terra. A melhor música com as melhores mulheres do mundo. A droga era apenas mais um fator.

O rapaz acreditava que não tem como curtir esses lugares sóbrios. Não é desculpa, mas balada nada mais  é do que uma grande vitrine humana, anestesiado, você se sente melhor, dá risada de tudo, fica mais aceptativo, principalmente com as pessoas.

E aquela garota estava oferecendo uma coisa nova. Diferente de tudo que um dia ele já provou. Iniciação militar, sempre é. Estava ali com o seu dinheiro e de mais quatro amigos. Dava quase pra comprar um carro de luxo, ou até um apartamento pequeno no centro.

E ela era uma vendedora. A melhor do seu ramo. Sem sombra de dúvidas.

- Nada do que você use, chegará perto disso. E pode ter certeza , eu sei exatamente do que estou falando - Sempre se mostrando muito maliciosa. - Não existe palavras nos dialetos humanos conhecidos que descreva o que esse miserável bastão faz com a sua cabeça.

Então ela tirou da bolsa um bastão azul enrolado em plástico.

 - É sintético ou natural? - Perguntou o homem curioso.
 - Você acha mesmo que Deus seria tão bom com a gente? - Disse gargalhando - A menos que isso seja um extrato do fruto proibido que Eva comeu. Aí sim eu digo, Éden nenhum valia a pena.
 - Não sei... - diz ainda indeciso - É muito dinheiro para...
 - Sem marcas! - Ela interrompe - Sem dor das agulhas ou olhos vermelhos. Esqueça ressaca ou aquela maldita coriza ou boca seca e salgada. Sem efeitos colaterais. E o melhor de tudo, como é algo completamente novo, não existe nenhuma legislação para isso. Estamos dentro da lei - Grita orgulhosa - E você preocupado com dinheiro? Então acho que estou falando com a pessoa errada.

Ela manda bem, fala bem. Consegue convencer um cliente a comprar gelo no Alaska. Te faz a pessoa mais importante do mundo, mas diz que para você ser ainda melhor precisa daquele produto.

O homem se atrapalha com as palavras, e continua sua entrevista.

 - Qual o nome dessa maldita droga afinal?
 - Ainda não demos. Envolve um pouco daquela coisa do segundo mandamento, sabe?
 - Não usarás o nome de teu Deus em vão.
 - Vejo que, assim como eu, é alguém religioso - Diz ela tirando sarro.
 - Temos que acreditar em alguma coisa não é mesmo? No que você acredita?
 - Eu acredito nessa porcaria de tubo azul.
 - Você que é uma incrível filha da puta de uma ótima vendedora, garotinha!
 - Além de drogada, sou uma mulher de negócios. - Sorri.

O homem pega o cabo da maleta, mas antes de levantar pra mesa se questiona uma ultima vez.

 - Depois de tudo isso... Porque deveria confiar em ti?

A garota para; Finalmente o cliente a deixou sem resposta, ela pega a taça de vinho e toma um longo gole da bebida escarlate. Respira, pensa e diz:

 - Bom... se até agora nada funcionou, confie em mim porque sou bonita pra caralho!

Ele sabia que ela iria machuca-lo. Ele puxa a maleta. Ela ri.

17 de abril de 2014

Esperança

Pelo que se espera?

Pelo súbito punhal
nas suas costas
semeando sangue no seu algodão?

Pelo deslise dos dedos
sobre o couro do cabo
perfurando seu órgão respirador?
Cortando em toses o fôlego.

Pela pressão
descendo a lamina
sobre o pobre forte músculo batedor?
Escorrendo a morte sobre o corpo.

Não se espera o coração.
Mão retirando-o e pondo em boca
a mastigar e cuspir
o que havia ali.

Não se espera o nome dela.
Horror sobre a espinha,
o calafrio que faz a pele retesar,
a maldição de sua era,
pois pelo mais que se esforça
o passado continua pouso sobriamente
sobre o seu pensar.

Maldita, dita.

Ainda lembrarei,
e suspirarei pela esperança
de te encontrar outra vez
e sofrer como nunca antes.

8 de abril de 2014

A História de Nós Dois

Queria começar aqui a contar a historia dela.
a historia de nós dois.

Mas os principais eventos
começaram a partir do momento
que eu deixei de me importar.

Portanto,
não estou tão por dentro daquele sofrimento
quanto eu mesmo
quando a fiz sofrer.

Poderia pedir desculpas,
mas a falta de relevância que isso me remete
é tão grande quanto um grão de areia.
Para apaziguar seu coração
apenas saiba que eu sei.

6 de abril de 2014

Feira

Segunda-feira é foda.
Chego em casa cansado.
foi divertido,
mas foi cansativo.

Não tem comida pronta,
alias, quando tem?
Põe no microondas
para comer comida ressecada.
Ah, nem to com tanta fome assim.

Preguiça de escovar os dentes.
É melhor ir.
Mas posso ir amanha de manhã.
Não. Eu vou.
Mas que escovada preguiçosa,
Era preferível nem ter escovado.
Já estaria na cama.

Chato é o suor.
Não to pingando, mas já pinguei.
Pinguei pra caralho hoje,
mas agora to grudento.
Fétido,
e nojento.

Tira as meias meladas.
Amassa e junta e joga ali no canto
junto com os outros cinco pares,
amanha eu pego e coloco no cesto de roupa suja.
Juro,
é que agora eu só quero dormir.

Que calça pesada.
Como que eu consegui ficar com ela o dia todo?
Tira logo,
To cansado e quero dormir.
Me pergunto
se realmente não é melhor eu tomar um banho.
Mas to cansado.

A cama poderia estar melhor.
Não me cubro,
ainda estou quente da rua,
quente da janela aberta do ônibus,
quente do ar congelador do metrô,
quente de São Paulo.

A noite vai fazer frio,
mas não agora,
agora estou com calor
e depois me cubro.
Agora eu só quero dormir e descansar
porque amanha ainda é terça-feira,
e terça feira sempre é foda.