26 de junho de 2013

Vox Popularis

Manifestai-nos
cria-te coragem
saímos às ruas
gritar contra
o sistema americano liberal.

Manifestai-vos
pela força pública,
pelo real conceito de democracia,
pela expressão livre
pela manifestação.

Pelo tom subjetivo do poder
não estamos em revolução
não somos manifestantes,
somos os governantes,
cansados de baderna e vandalismo.

Proletários de todo o mundo, uni-vos!

22 de junho de 2013

Sentimentos da Primeira Noite de Inverno

Quebrar o braço daquele filho da puta.

“E aí troxa”, foi o que ele disse pra mim.

De pau duro pela Elisabete,
Heloise, Maitê, Marilyn Renata, Vanessa.

Já está tarde e amanha quero acordar cedo.

Camila foi minha primeira tentativa de começar algo certo,
Andressa é a segunda, e de novo tudo tá dando errado.

Eu o traí? O gordo?
Por isso que me chama de troxa?

Me traiu. Quebrar o nariz daquele filho da puta.

Não é pelo sexo, é pelo frio.

Uma vez me disse que o frio é falta de amor.
Fodeu, porque o inverno começou.

Adorava passar a noite bebendo cerveja, mas agora se entorpecer não faz mais sentido.

Só sei que está frio, e amanha quero acordar cedo para sair do ócio, e fazer algo.

Amanhã é sábado, tem culto, me lembra da infância.
E aqui vai mais uma tentativa de fazer algo de bom. Com ela não deu.
Antes, com a Camila, não deu.
Hoje, com Andressa, também não está dando também.

Só quero ver aquele filho da puta sangrar.

Pensei em me juntar com o gordo, para bater naquele filho da puta.
só por diversão. Só pela dor.
Mas ele não gosta de mim. Hoje me chamou de troxa.

Ainda estou com o gosto da cevada. Sem graça.

Só sei que está tarde, e amanha quero acordar cedo.

Uma vez ganhei uma medalha de bronze numa competição qualquer na escola.
Meu pai olhou e disse:
muito bom, mas teve dois melhores que você.
Isso não foi um incentivo.

Quero quebrar a perna daquele filho da puta.

Está frio, e hoje é a primeira noite de longo inverno.

Estou sozinho e com raiva do passado.
Me apego a memórias, mas também fico irritado com elas.
E o pior é saber que tudo piora no inverno.

Só sei que está tarde e frio, e eu vou dormir.

18 de junho de 2013

O Segredo das Mulheres Apaixonantes #14 - Ariane

Ser amigo de casal é complicado. Você não é amigo dela ou dele, é amigos deles. Mas isso foi um pouco antes e bem depois... A história propriamente dita descarta essa variável.

E muito antes de eu sequer pensar maldade, eu conheci Ariane.

Ela foi por anos minha professora de inglês. Nesse tempo tínhamos um relacionamento estritamente profissional. Eu era aluno e ela era minha professora, nada além disso. Claro que tem aquele mal de Édipo comum entre homens mais novos e mulheres no poder. Mas isso também era impensável. Era linda, mas era minha professora comprometida.

Mas os problemas vieram quando ela ficou solteira, e eu completei a maior idade de acordo com a lei brasileira, ou seja, a gente já podia beber juntos sem nenhum problema estritamente legal.

Nas primeiras vezes que nos encontramos no extraclasse foi exclusivamente para falar do seu termino. Funcionei como um ouvido, mas ao mesmo tempo eu estava um pouco tenso. Não entendi o motivo de a minha professora gostosa me chamar pra beber...

Foi quando por alguns momentos eu pensei: Ariane quer. A veracidade dessa afirmação nunca foi posta a prova.

Mas a gente teve uma relação de amizade que nunca tive com nenhuma outra pessoa. Eu saia do trabalho na hora do almoço para encontra-la, marcávamos de nos ver entre o tempo da faculdade e o trabalho, comemos cupcakes e conversávamos sobre a vida e a falta de dinheiro. 

A falta de dinheiro. Uma constante.

Víamos-nos pelo menos 4 vezes por semana, e eu nem to considerando sexta, sábado e domingo. A quantidade de cerveja foi inacreditável.

Cerveja. Outra constante.

Alguns dias antes das festas de fim de ano, ela me chamou para ir pra praia com um casal de amigos. Aquela minha sensação estava virando realidade.

Naquela viagem realmente não saiamos um lado do outro. Foi lá que conheci seu passado nebuloso e moralmente contestável. Bebemos muito. Foi comigo que ela tomou seu primeiro shot de tequila e fumou seu primeiro baseado. No final da noite vimos o nascer do sol e eu insistia que era o pôr do sol de tão maluco que estava. Chegamos quase 6 da manhã no quartinho apertado do apartamento acordando o casal com os olhos vermelhos e a cabeça girando.

Foi uma boa viagem.

Assim eu aprendi duas coisas. Mesmo não parecendo, Ariane não queria dar pra mim. E aprendi também um pouco mais sobre ela.

Ela precisa de amigos ao seu lado, alguém para escutar e dar conselhos. Fui um instrumento em suas mãos quando ela mais precisava. Fui usado para ela não se sentir sozinha. Mas eu não tenho nenhum rancor dela, pois foram bons momentos. Eu estava sempre presente com ela, assim como ela estava comigo, precisávamos um do outro.

Tem cabelos curtos cacheados na altura do pescoço. Uma bochecha estufada. Seu estilo de se vestir um pouco hippie e regueiro revelam seus sentimentos de liberdade. Muito ativa e criativa, nunca fica parada, e por isso sua vida sempre tem incríveis novidades. Ela sabe contar uma boa historia.

Alguns meses depois de nossa primeira cerveja ela voltou com o ex-namorado. Ela me afirmava que não sentia mais nada por ele, e bravejava o quanto ela perdeu tempo e o odiava, mas no fundo mesmo eu sempre soube que ela o amava, e sentia sua falta.

Nossa relação foi muito boa. Para alguns ela estava me dando mole, para outros eu estava sendo seu objeto, mas pra mim (e acho que pra ela também) fomos amigos. Uma constante.

16 de junho de 2013

O Segredo das Mulheres Apaixonantes #13 - Outra Camila

Camila foi uma tentativa de fazer alguma coisa certa.

Você olha para trás e começa a perceber que fez más escolhas, e que está na hora de tomar um rumo certo. Mesmo isso sendo a coisa mais esperada pelos outros, você decide mudar simplesmente porque você tem que mudar, por você mesmo.

E aí tudo dá errado.

Ela é muito vaidosa. Pra ser sincero, ela é a única mulher que o esmalte de suas mãos realmente realçava alguma beleza significativa. Homem nunca olha para a mão da mulher, mas para as mãos de Camila eu sempre olhava. Admirava os dedos, e de três em três dias olhava para suas mãos de novo para poder ver de que tom estava a nova pintura. Valia a pena. Eram lindos. 

Olhos castanhos claros, e um sorriso cheio lindo. Cabelos longos quase até a cintura. Mas não eram seus atributos físicos que me chamavam a atenção, e sim a Camila que estava escondida.

Ela era engraçada. Sempre tinha alguma piadinha que mandava na hora certa. As vezes a piada e o riso eram forçados, mas não importava, eu sempre ria com ela. Ela também ria das minhas piadas. Eram momentos engraçados.

Era a segunda ou terceira vez que fazia as aulas de álgebra (nunca me importei porque eu nunca entendi álgebra). Ela era bichete e eu seu veterano, sobretudo, amigos de classe sempre as quartas durante o primeiro período. As únicas aulas que eu fazia questão de não chegar atrasado.

Inteligente e aplicada. Era visível o esforço que ela fazia para acompanhar tudo e fazer tudo por ela mesma. Mas tirando isso, não consegui decifrar Camila. Parecia que ela estava sempre feliz em estar ali contigo, mas ao mesmo tempo tinha duvidas disso.

O que aconteceu é que nunca passei de uma expectativa. Eu a olhava como a solução para meus problemas, a mulher que me tiraria de do fundo do poço e me levaria à luz. A mulher perfeita, companheira e parceira. Só que ela não queria esse fardo pra ela.

Ou talvez, só não me queria mesmo.

Sai da faculdade, e continuei flertando. Em vão. Alguns meses depois descobri que ela começou a namorar. Mas agora eu sei que ela ta feliz. Completa. Qualquer outra coisa que eu diga é egoísmo meu.

12 de junho de 2013

O Segredo das Mulheres Apaixonantes #12 - Zil

Estava eu nas quentes terras do extremo norte do sertão de Minas Gerais, na cidadela natal da minha mãe onde viveu até idade adulta. Deste que me entendo por gente, quando possível em época de férias, íamos visitar tios, primos, parentes... A cidade é tão pequena que parece que todo mundo tem algum parentesco.

Mas eu nasci em São Paulo. Sempre tive maior ligação com minha família paterna. Mas nunca neguei meu outro lado, e foi numa dessas aventuras que conheci Zil.

Não lembro do nome dela. Chamava-a assim porque sabia que a irritava, ela odiava esse apelido, e assim ficou: Zil.

Ela gostava de beber como ninguém. Dizia que água se bebe em casa, sempre estava com uma cerveja na mão.

Numa véspera de natal, a cidade inteira se junta em um grande salão próxima a praça da igreja. Começamos a conversar, e depois da meia noite eu pedi meu presente. Olha que até demorei, mas valeu a pena.

Beijamos com muita intensidade. Várias vezes algum colega chegava brincando e a gente nem prestava atenção. Alguns gritavam que iam jogar água, dávamos risada, e voltávamos a nos beijar.

Depois das 5 da manhã a festa já estava quase acabando. Com dois ou três gatos pingados pelo salão ainda querendo dançar, eu só queria sair dali com ela, mas ela só falava pra eu esperar mais um pouco. Dizia alguma coisa safada na minha orelha, e eu já era todo seu de novo.

Tomei um susto quando saímos do salão, e a consegui a ver direito com a fraca luz do dia nascendo. Ela não era feia, mas também estava longe de ser bonita. Ainda mais com a maquiagem toda borrada da boa noite. Mas seu corpo compensava tudo, com os seios grandes e durinhos, e um bumbum rebolador e empinado.

Muito sensual sabia utilizar o que tinha. Com uma vozinha pra qualquer um ter múltiplos orgasmos múltiplos, ela disse para nos vermos amanha, e eu topei.

Com essas armas, a safada da Zil deixava qualquer homem louco. E Eu não fui exceção.

Pena que esse dia nunca chegou. Descobri que ela foi pra outra cidade passar o réveillon com outros parentes, e nunca mais a vi.

Meses depois fiquei sabendo que ela parou de beber, se casou com um homem rico da cidade vizinha.

E que ela é minha prima.

Pois é... Os males de cidades pequenas.

Festa em Família

Baseado no conto Feliz Aniversário de Clarisse Lispector.

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Quando o despertador tocou naquela manhã de domingo Dorothy já estava acordada. Era um dia especial pra família toda. Sua vó fez 89 anos naquela semana, e resolveram fazer uma festa naquela tarde de domingo. Um almoço com um bolo e salgadinhos e quem sabe se divertir um pouco com a família. Mas sua família não era assim tão feliz.

Essas festas em família sempre fora o centro de grandes discussões e brigas. As principais personagens são as esposas de seus tios que se odiavam. Já houve até divórcios em outros aniversários por causa de ciúmes. Ela nunca entendeu o motivo dessas brigas, mas tanto faz, Dorothy gostava de vê-las brigando seja por ciúmes ou por inveja. Dorothy não gostava de nenhuma delas.

A tia Denise por exemplo, esposa do tio José (que por acaso é sócio de seu pai nas lojas de construções da cidade), sempre usa aquele colar de perolas falsa com um vestido preto ou branco sem graça, e não para de repetir que ela colocou o original num cofre de banco, e que usa aquela copia para enganar bandidos.

Dorothy, no alto de seus 13 anos sabia que aquilo era mentira, e que Denise só falava disso para se gabar dizendo que tio José é o único filho que seu deu bem na vida. O que também é uma mentira, já que escuta seus pais quase todo dia dizendo que ele está se endividando muito com aquele carro amarelo horroroso que ele comprou.

Enfim, Dorothy adorava essas festas por causa das brigas e também por causa da comida da tia Zilda. Ela cozinhava muito bem. Seu pai sempre dizia pra ela abrir seu restaurante, mas Tia Zilda não tinha tempo. As vezes Dorothy ficava com dó dela, a única mulher da família, e ainda tem que cuidar da vó, uma mulher que o tempo deixou-a amarga. E foi assim que a viu quando entraram pela porta da sala, depois de subir 3 andares de escada, já que o elevador estava quebrado, de novo.

A casa já estava bem cheia quando chegaram. Muitos primos e vizinhos. Cumprimentou a nora de Ipanema, uma mulher de poucas palavras sentada no canto da sala conversando com a babá dos meninos... Dois pestinhas.

Em seguida queria ir embora, mas seu pai a obrigou a cumprimentar a vó, não queria ir porque morria de medo de encara-la por muito tempo. Chegou perto e estendeu a mão:

- Benção vó!

A vó olhou de canto de olho e resmungou alguma coisa que não deu pra entender. Olhou pra trás um pouco desesperada, e o pai lhe deu um olhar de reprovação, então ela resolveu puxar um papo qualquer para descontrair:

- Poxa vó, esse prédio está um caco hein! Acho que ta na hora da senhora e tia Zilda saírem daqui... A prefeitura vai demolir isso um dia ou outro!

Dessa vez a vó apenas bufou em fúria. Percebeu que falar disso era pior do que as tentativas sem graça do tio José e de seu pai de fazerem piadas. Olhou pra trás de novo procurando a ajuda do pai, mas ele já estava falando com o tio José sobre as lojas, e quando eles começam nada os impedem. A não ser o olhar raivoso de sua mãe, mas ela deve estar ocupada na cozinha ajudando a tia Zilda.

Indo em direção à cozinha, viu que era verdade. Roubou um croquete da ajudante da tia, e desceu as escadas para ver se tinha alguém de mais interessante lá em baixo.

Chegando lá tinha apenas os dois meninos, aqueles que estavam com a mãe e a babá. Eles estavam no canto da parede com um copo não mão.

- Onde está seu pai? Ainda não chegou? – Perguntando puxando assunto, e também estava curiosa porque o pai deles era lindo.

Assustados jogaram o copo fora, e saíram correndo escada a cima.

Dorothy chegou perto, e cheirou o copo, e não acreditou que dois garotos de 5 anos estavam tomando vinho escondido. Sozinha ficou ali sentada um pouco pensando na vida, vendo mais alguns carros chegarem, mais pessoas subirem a escadas até que desceu também o seu primo Júlio.

Ele era mais velho uns 4 anos, e era lindo. Ele era muito inteligente, e Dorothy era louca para dar um beijinho nele, mas ele não dava muita bola pra ela, talvez por ser gordinha, mas ela não queria pensar sobre aquilo. Ele chegou perto e ficaram conversando sobre a problemática família deles.

- Mas hoje está muito calmo né? Uma hora dessas em outro aniversario nossas mães já tinham saído na mão a um bom tempo! – Disse ela.

- Ah, mas hoje é aniversario da nossa vó! – disse rindo - Tia Zilda disse que queria respeito no aniversario da velha. E aí todos prometeram nada de barracos!

Foi a coisa mais decepcionante que ela já ouviu naquele dia. E ainda restava muito para acaba-lo, nem o bolo fora cortado ainda.

E bastou pensar nisso que alguém apareceu na janela 3 andares a cima gritando que iam cortar o bolo. Meio desanimada ela foi subindo a escada com o Júlio do lado, e antes de chegar perto da porta já estava aquela confusão musical que sempre acontece.

Cantar parabéns em inglês em terras brasileiras nunca fez muito sentido pra ela. Mas parece ser uma tradição de família cantar em cima do “parabéns pra você” o “happy birthday”. Nunca teve graça.

Pensou nos meninos tomando vinho lá em baixo, e resolveu aproveitar que todos estavam na sala homenageando a Vovó rabugenta, para ir até a cozinha e roubar mais alguma coisa de comer, e quem sabe um copo de vinho também.

Olhou para trás e encheu um copo de plástico com um vinho vermelho sangue, e pegou mais algumas especiarias fritas pela tia... Quando de repente todo mundo se calou na sala. Ela não sabia o que era, mas um leve sorriso cresceu em seu rosto, pois sabia que quando a sala fica silenciosa demais, algo de ruim está para acontecer.

Foi correndo pra sala, e perguntou para o Júlio que estava chocado encostado no batente da porta:

- A vovó pirou!

Dorothy olhou para a sala e lá estava a tia Zilda sem olhar pra trás dizendo e repetindo:

- Mamãe! - gritou mortificada a dona da casa. - Que é isso, mamãe! Mamãe, que é isso! - Não parava de falar isso em reprovação - A senhora nunca fez isso! – E essa ultima frase parece que foi dita mais alto do que as outras para que todos ouvissem.

Dorothy olhou ao redor, e todos estavam chocados. Tia Zilda já sem forças admitiu:

- Ultimamente ela deu pra cuspir...

Aquela dó que ela já sentia pela sua tia cresceu mais naquele momento. Uma mulher que a idade já lhe tirou o vigor e a beleza e que sempre teve que ficar presa em uma casa para cuidar de uma mulher rude e velha, que nem lhe dá atenção, e agora fica cuspindo pela casa fazendo-a limpar.

Ela entendia a vergonha que a tia estava passando. Aquele ato da vó era quase como se tivesse jogado todo o trabalho da tia pelo ralo. E todos ali na sala estavam parados, estagnados pensando que seria melhor ela ficar num asilo.

Dorothy deu um passo a diante para abraçar a tia Zilda ali do meio, e dar um abraço nela, mas seu ato é interrompido pelo resmungo de sua vó.

- Me dá um copo de vinho.

O susto subiu pela espinha num suor frio. Ficou se perguntando como sabia que ela estava bebendo vinho?

- Vovozinha, não vai lhe fazer mal? - Tentando ser mais fofa e assustada o possível para que uma possível bronca sobre o fato dela ter 13 anos e estar bebendo vinho não seja lembrado a diante.

- Que vovozinha que nada! – gritou a vó, e isso já era algo interessante porque não fazia ideia de que a velha ainda tinha fôlego para gritar desse jeito. Dorothy também percebeu que todos se assustaram por isso também. - Que o diabo vos carregue, corja de maricas, cornos e vagabundas! Me dá um copo de vinho, Dorothy! - ordenou.

Dorothy sempre que não sabe o que fazer, olha para seu pai, e assim o fez. Todos estavam tão assustados quanto ela. Então viu que a única saída era dar seu copo para a vó.

Após fazer isso, saiu por onde entrou e lá estava seu primo Júlio com um leve sorriso no rosto:

- Parece que a tia Zilda se esqueceu de avisar a vó para se comportar também!

Dorothy quis dar risada, mas manteve a cara de passiva, pois mais a diante estava vindo seu pai com uma cara de nervoso. Júlio também viu e saiu de perto para não escutar a bronca também.

- Você estava bebendo vinho? Você é uma criança!

Dorothy ficou no carro de castigo até o final da festa. Mas ela não estava triste. A festa foi melhor do que ela esperava. Melhor do que ver mulheres de 40 anos se atacarem sem motivo nenhum. Ver uma velha amarga descontar toda a raiva de uma vida não vivida em seus descendestes. “Fazia muito sentido”, pensava Dorothy “minha vó deve olhar pra gente como sendo o fim do mundo, afinal de contas, somos nós que estamos levando o legado da família para o futuro, e somos uma droga de família”. Deu uma risada gostosa.

Ficou ali no carro vendo o movimento. Depois de umas horas os mesmos meninos que estavam bebendo vinho mais cedo, voltaram por mesmo lugar, mas dessa vez com um maço de cigarro inteiro nas mãos. Dorothy não precisou fazer nada, porque o lindo do pai deles chegou bem na hora que eles pegaram o isqueiro.

Agora era esperar ano que vem para ver quem seria a próxima vitima da vovozinha.

10 de junho de 2013

O Segredo das Mulheres Apaixonantes #10 - Adriana

Liberdade e Adriana se misturam em um único significado.

Adriana se destaca das outras jovens pela sua beleza. Ela sabe que é bonita e atiça. Olhos verdes claros, um sorriso grande e bonito. Cabelo castanho claro e longo, quase até a cintura, liso, mas fácil de encaracolar. Sua pele é clara, quase pálida, e se confunde com os outros tons de seu rosto, como o frágil tênue róseo de seus lábios. Possui muitas pintas espalhadas por todo o corpo, o que dá uma aliviada no meio dessa eterna candura.

Pelo jeito de se vestir se constata uma hippie. Usa aquelas blusinhas, tipo batas, florais que formam os mais diversos desenhos geométricos coloridos e chamativos. Uma calça jeans e uma sandália de couro com várias fitas subindo pela panturrilha. Algumas pulseiras e brincos, tipo artesanato indígena, com penas e arames coloridos.

Com Adriana do seu lado, você sente sua libido crescer. O jeito que ela te olha e te toca, quase sem nenhum pudor. O toque de Adriana é inesquecível. Desde o primeiro segundo que a conhece, ela já é sua amiga. Você a abraça, e não quer deixa-la ir.

Adriana é tensão sexual. Ela sabe disso.

O ministério da saúde adverte: Um pouco de Adriana pode ser perigoso. Ela não se importa com você. Sempre leal à amizade, mas ela é um pássaro e precisa voar.

A conheci em um bar, onde mais poderia ser? Me acompanhou nas bebidas, e aguentaria mais ainda. Fiquei de quatro por ela, e ela deixou a entender que para roubar um beijo dela não bastava nada.

Capciosa. Te faz crer, com todas suas certezas e convicções que ela pode ser sua a qualquer momento. Basta toma-la. Mas depois descobre que Adriana é livre demais pra você, sobe pela nuca um leve orgulho de ter sido enganado por Adriana.

Adriana é vontade não saciada. Pelo menos da parte dela tu será para sempre faminto.

Muito inteligente, não é com qualquer xaveco que você a conquista. Ela é sua amiga, diga o que quer, o que pensa, não invente, seja você mesmo e dê o seu melhor. Ela vai pensar, te torturar e quem sabe te beijar.

Fui torturado por Adriana. E constato que ela é areia demais para o meu pequenino caminhãozinho. Alias, é assim que todos se sentem quando ficam do seu lado.

Uma vez ela me chamou pra ir numa balada de umbanda. Não fui. Me arrependo até hoje. Quem sabe o que poderia ter acontecido comigo e com Adriana?

O Segredo das Mulheres Apaixonantes #09 - Stig

Ela é mais homem que muito homem por aí. Pelo menos, mais homem que eu, sem duvida nenhuma.

A primeira vez que vi Stig fiquei em duvida se era uma garota de cabelo bem curto, ou um rapaz muito bonitinho. Deve ser o efeito da testosterona saindo de um corpo que não produz testosterona.

Nesse mesmo dia fomos ao bar. E entre papos de cinema, e uma cerveja que não tinha fim, entrei em um estado caótico, que só me lembro com clareza da ressaca moral que me atormentou no outro dia. Stig cortou qualquer relação que poderia ter comigo.

Voltamos a nos falar alguns meses depois quando ela já estava mais calma, e eu mais sóbrio.

Stig tem olhos verdes maliciosos. Cabelo aparados, sempre penteado com um topetinho canalha a lá James Dean. Ela é gordinha, o que ajuda a esconder seus seios, e aumentar a duvida sobre seu gênero.

Ela é forte, quase brutal nas ações, jeito de falar e de te tratar. Se ela fica nervosa contigo, pode ter certeza que ela vai querer te bater, e provavelmente você vai apanhar. Explosiva e sentimental.

Ela sempre tem alguma historia incrível. E assim ela é o centro das atenções. Todo mundo quer falar com ela, ficar perto dela. Todo mundo quer ter uma foto tirada por Stig. É uma marca.

Por essa e por outras que ela nunca esta sozinha. Sempre rodeada por amigos, ou com alguma namorada nova. 

As mulheres de Stig...

Suas mulheres são quase um estudo à parte. De longe, as mais belas que já vi. Ela sabe xavecar como ninguém. Ela sabe tratar uma mulher como ninguém. Sabe colocar o ego de uma mulher lá em cima, e leva-la para a cama em minutos.É sério, já vi fazendo isso.

Uma vez, eu estava tentando roubar o beijo de uma garota numa balada paulista. Estava tudo bem, até Stig chegar, e roubar a atenção dela de mim. Eu até estava mandando bem no papo. Não sei se elas se beijaram naquela noite, só sei que fiquei bem consternado com Stig.

Mas por trás dessa força toda, Stig é uma menininha. Ela não admite o quanto ela é carente e fraca. O combustível que a faz sair da cama todos os dias são seus amigos. Ela precisa mais deles, do que eles dela. Ela nunca falará que isso é verdade, mas no fundo Stig é uma mulher que quer sua atenção.

Por isso Stig ama todos ao seu redor. Amiga parceira e companheira para todas as horas. Você aos olhos dela é alguém muito importante, e ela sempre terá um conselho genial para te dar.

A melhor amiga que alguém pode ter. Só não a deixe nervosa, porque ela não tem medo em soltar os cães sobre você.

E pra terminar, digo o que dizem ela, como se fosse seu slogan pessoal: A Stig é foda!

O Segredo das Mulheres Apaixonantes #08 - Marina

Foi uma época interessante da minha vida. Lugares, coisas e principalmente, pessoas. Finalmente eu estava estudando e trabalhando com meu sonho. E pra melhorar, todas sextas sem erros, íamos para o bar. Foi numa dessas sextas que eu conheci Marina.

Amiga de uma amiga, Marina era linda. Mas antes de cumprimenta-la, ela já estava de beijinhos com um pagão que adorava bacon. Cheguei atrasado, mas Marina ficou na minha cabeça.

Eu era apenas um garoto que adorava o que fazia, e estava evoluindo com pessoas que estavam nesse ramo muito antes de eu nascer. Tudo e todos respiravam cultura e experiências novas, e Marina não era diferente desse novo mundo.

Marina é do sul do país, descendentes de libaneses. Uma mistura de um sotaque gaúcho fraco e sensível, com os traços árabes delicados. Rosto pequeno, lábios finos e olhos pretos. Cabelo fino e liso, curto que cobre o pescoço. Toda harmonia é quebrado por um óculos pesado de contraste.

Gosta de rock pesado. Reflexo de um espírito atormentado. Sempre usando preto e um coturno de guerrilha. Não se maquia, se sim, somente as vezes e o mínimo o possível.

Eu tinha medo de Marina.

Dura e independente, sempre estava falando de algum cineasta do leste europeu da década de 30, de alguma banda de rock progressivo alemã, ou dos conflitos e massacres da do oriente. Ela é inteligente e de opinião forte, jamais tem medo de discordar de você, e quem sabe arrumar uma inimizade.

Veio para São Paulo noiva. Não sei como ela era antes desse relacionamento, mas quando o assunto é esse, Marina sempre é fria e categórica: eu não quero compromisso. Talvez porque um namorado tire um pouco de sua liberdade e independência. Ela não precisa de você, e sempre deixa isso bem claro.

Entrei de cabeça em jogo. Comemorando seu aniversario numa sexta feira na Augusta, nos beijamos. Já a conhecia a mais de um ano, e estava com sede daquele beijo desde o dia que a conheci. Como beber água depois de horas caminhando sob o sol ardente das 3.

Mas não tinha sentimento. Ela deve ter sofrido tanto com os homens de sua vida, que se acostumou com a solidão. Às vezes pensava que ela tem que ser resgatada dela mesma. Não consegui. E fui embora porque ela pediu.

Doce e delicada, depressiva e melancólica. Deveria ter algum manual de instruções para entender melhor Marina.

7 de junho de 2013

Manhã de Outono

Tem uma coisa que todo mundo sabe, mas ninguém entende. Aquele papo sobre aproveitar as pequenas coisas da vida, parece ser um grande monte de vazio sem sentido. Faz parte daquelas coisas que devem ser vividas e não explicadas.

Mas o Garoto caiu no erro de tentar explicar. Não que a Garota fosse burra, mas em certas circunstâncias lhe faltava aquela tal da massa cefálica para compreender todas as nuances de uma conversa linear.

Seu Oposto. Para alguns é disso que um bom relacionamento é feito. Pessoas diferentes se encontrarem de alguma forma para se completarem. Ela era linda, e era sua.

E aquele momento especifico era a resposta para as perguntas sobre relacionamentos que o garoto sempre tentava se esquivar.

Era uma manha de sexta feira de outono. Dizem que é a melhor época para se escrever uma poesia. A poesia de uma manhã daquelas está escrita no próprio sabor do café que fica no ar, na fumaça que o bule faz, e naquele chiado estranho. Na abundância de luz que entra pela janela se fundindo com a neblina remanescente da madrugada, dando um aspecto degradê e serpia que nem em filmes antigos conseguimos ver. E a cozinha toda iluminada dando um maravilhoso bom dia para o mundo.

Ela estava com uma das suas camisetas xadrez que ele tanto gosta, e uma calcinha de renda cinza. Andando descalça pra lá e pra cá, pegando o pó de café da pia, e passando a manteiga no pão. Ela nunca foi de dar café da manhã na cama, mas o dia estava lindo e isso imunda o coração de amor. Coisas românticas sempre são bem vindas... Ainda mais vindo dela. Tão séria!

O gosto amargo da noite bem dormida ainda estava na boca, mas a vontade de desencostar do batente da porta e ir escovar o dente era completamente nula. Ficar ali, parado, sentindo aquele amalgama da fria brisa matutina, e leve calor dos tênues raios de sol já poderia ser considerado como alguma coisa boa. Juntando com a direção de arte daquela cena...

- Nossa... Você está ai desde quando? - Perguntou ela assustada ao perceber sua presença.
- Acordei agora a pouco... Com o cheiro de café fresquinho.

E foi nesse ponto que o garoto tentou falar pra ela que, ele não trocaria aquela manhã por nada nesse mundo.

- Déjà Vu - Disse ele.
- Como assim? Isso já aconteceu antes?
- Para o resto de minha vida, lembrarei.

6 de junho de 2013

Carta Suicida #47

Pelos anos aqui vividos, sei que por meros protocolos sociais tenho que escrever isso para demonstrar um pouco das minhas ultimas considerações.

Mas diferente de todas as outras 46 que já escrevi, aqui vou ser diferente. Não vou falar sobre motivos, nem culpar pessoas da minha finalização, pelo contrario, irei apenas dar aquele adeus gostoso. Quando aquela visita boa ta indo embora de sua casa, e você se despede mas não quer que ela vá embora... Pois é.

Mas sempre pedem motivos. Queria ver aquela minha vizinha velha falando "mas você ficou sabendo? moço bonito, jovem, com uma vida inteira ainda pela frente" ou até aquele conhecido que estudamos juntos numa época mais feliz falando preocupado "eu estudei com ele... o que será que aconteceu?"

Não julgo, sei que o inesperado e o diferente chama atenção. Sei que não é hipocrisia. Eu realmente sou um moço jovem e bonito com toda uma vida pela frente ainda. Mas eu desisti. Assim como você desliga o vídeo game sem salvar, simplesmente porque não quer mais jogar.

Todos os pensamentos além disso são firulas sem sentidos. No final tudo vira estatística, números e dados, e na real, é isso que importa de verdade.

Não sei ainda como será. Mas não quero atrapalhar sua viagem de metrô. Nem usar cordas porque é algo muito forte e bruto. Também não quero usar armas brancas ou de fogo é muita sujeira. Enfim, quero algo rápido e que dê pouco trabalho para quem for limpar.

No meu funeral não quero nada demais. Coxinha, talvez. Sempre adorei coxinha. Dizem que só quem gosta de verdade de você vai ao funeral, tardia lição, mas concordo. Por isso quero oferecer coxinha para as pessoas que forem no meu funeral. Como gratidão por ter me acompanhado até na morte.

Mas sem chororó, quero ser lembrado. Apenas isso.

Quero ser lembrado como aquele cara engraçado, que você sempre podia confiar. Aquele amigo para todas as horas, mas que por mais séria que fosse a situação eu sempre contaria uma piada engraçada, e quem sabe ela funcionaria como bordão para outras situações semelhantes, ou não.

Quero ser lembrado como aquele cara beberrão. Pois é, eu gosto de beber. Cerveja por favor.

Quero ser lembrado como aquele cara criativo. Tive uma ideia! E Você sabia que eu teria uma bela ideia para te salvar de qualquer situação que fosse.

Quero ser lembrado como o seu melhor namorado. Quero que se arrependa de ter me feito chorar, mas também quero que se lembre dos momentos bons antes das crises. Só quero que você chegue a conclusão de que nada depois de mim fez sentido.

Quero ser lembrado como caloteiro. Acho que to devendo uma grana por aí, mas agora eu estou morto e isso não importa mais. Mas se lembre de nunca mais emprestar dinheiro para caras como eu.

Quero que se lembre que você trocou minha amizade por trocados, mulheres e drogas. Não guardei ressentimento, sempre dizia em vida (e talvez uma boa frase pra minha lápide) "não fico com raiva, apenas mudo de opinião", e a minha opinião sobre você, é que você é uma droga de amigo.

Quero ser lembrado pelos meus vídeos e textos. Massagem no ego.

Quero ser lembrado pelos inúmeros foras, tocos e bolos que me deram. Quero que se lembre de que passei boa parte da minha infância e adolescência apaixonado por uma garota baixinha de cabelo cacheado, e que ela não quis nada comigo.

Quero ser lembrado como o cara que tem medo de rato. Não sei de onde veio esse medo irracional e quase feminino que tenho de ratos, mas lembre-se que ratos são soldados de satanás em terra.

Enfim. Quero você daqui 50 anos ou mais, na sua cadeira de balanço pensando no hoje, a melhor época da sua vida, se lembre de mim e diga: "Onde será que anda aquele pilantra hein?". Mas aí cai a ficha que eu estou morto e que talvez não dê tempo de ler a carta numero 48.

3 de junho de 2013

Re-

Recomeçar significa começar de novo. Uma nova chance pra algo que já aconteceu. Outra vez.

Nos últimos dias, essa palavra foi muito forte pra mim. Achamos que a resposta para algo está no passado, e tentamos resgatar. Tentamos recomeçar, mas não. A resposta nunca é essa. O novo sempre é melhor. O novo nunca é desbotado.

Para re-tentar algo já acabado, devemos nos perguntar: porque acabou da primeira vez? Acredito no aprendizado e no amadurecimento, mas o que acabou não pode voltar. Por orgulho, e por lógica.

Então nasce outra questão: se teve motivo para acabar da primeira vez, que motivos têm para tentar mais uma vez?

Sem duvida essa resposta estava na esperança deixada no passado, para que seja bom de novo, mas o mal se sobressaiu para que a melhor escolha fosse o fim.

Nos últimos dias pensei em recomeçar, mas acho melhor tentar começar algo novo, de novo.